terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tudo o que acontece lá...

"acho que quando a gente lê um livro, parece que tudo o que acontece lá, acontece com a gente", disse a menina de cabelos pretos, sentada no terceiro degrau da arquibancada, no ginásio da cidade de Pompéia, em São Paulo, durante a III Ciranda Cultural.
Assim começou o primeiro papo do dia, a partir da pergunta que fiz: "como eles se sentiam lendo uma história, um poema?"
Talvez uma pergunta muito subjetiva ou íntima para as 100 crianças, de 8 e 9 anos,  que estavam ali. Mas, se num primeiro momento, um estranhamento tomou conta dos meninos e meninas, rapidamente, depois do silêncio, lá estava a garota contando sua experiência. Achei interessante ela ter percebido o livro como um “lugar”, e o quanto a ficção é a própria vida naquele momento de leitura.
Não pude deixar de pensar no livro “A Poética do Devaneio”, de Bachelard,  no trecho em que ele afirma que “(...) sim, realmente sonhamos quando lemos. O  devaneio que trabalha poeticamente nos mantém num espaço de intimidade que não se detém em nenhuma fronteira – espaço que une a intimidade do nosso ser que sonha à intimidade dos seres que sonhamos (...)”.
No pensamento de Bachelard como no sentir da menina, o devaneio, a leitura,  a experiência estética  da linguagem abrem espaços novos na existência.
Naquele ginásio amplo, enorme, que abrigava pombas e até um inesperado visitante, um urubu que ali se instalou e permaneceu até o último encontro,  o papo com as crianças seguiu cheio de boas revelações. Foram 400 crianças, ao longo do dia. Passamos momentos tranquilos alí, onde histórias minhas e delas surgiam, onde o pensamento corria solto, onde a imaginação atravessou fronteiras.



7 comentários:

  1. E a menina "traduziu" Bachelard com suas palavras de 9 anos. Que lindeza!

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  2. Foi mesmo, Rosaly! As crianças andam tão mais maduras para um bate papo... venho notando isso.

    Silvana, simples assim...

    beijos,

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  3. Fazer brotar as experiências. Uma prática de maravilhas.

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  4. e brotam...

    Leda, Voltou das suas maravilhas?

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  5. Bastante vida para uma cidade extinta.
    A lava pode queimar, é só olhar o chão.
    Mais a foto mostra um ato de fertilização.
    Leitores crescerão!

    parabens.

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