quarta-feira, 11 de abril de 2012

Enredos possíveis II

A segunda imagem apresentada para os participantes da Oficina de criação de texto, do Sesc Belenzinho, foi a pintura de Van Gogh. De quem são estes sapatos? Para Evelyn os próprios sapatos se tornaram os personagens de sua narrativa. Cristiana calça os sapatos em Jônatá, como veremos a seguir. 


Sapatos,1888. Van Gogh





 Trecho do texto de Cristiana Neri. "O garoto dos sapatos velhos"



" Garoto pobre e muito querido aquele, de sorriso grande e conhecido na vila como “Jô”. Seu nome é Jônatá, escrito assim, errado mesmo, uma tentativa falha da mãe em deixar para o filho ao menos um nome sofisticado, já que a família carregava a pobreza desde todas as gerações anteriores de que tinham conhecimento. A mãe não sabia escrever o nome que ouviu na TV, e levou ao cartório um papel com a tentativa de reproduzir aquela palavra com “jeito de riqueza”, como assim julgava. 
Os calçados de Jô, assim como suas roupas, sempre foram adquiridas em doações. Ele adorava jogar futebol com os colegas, mas seus sapatos eram o único par de calçados que ele possuía naquele momento da vida, e para não correr o risco de estragá-los, precisava tirá-los dos pés antes das partidas vespertinas diárias do tão querido esporte."


Texto integral de Evelyn Pereira, Sapatos abandonados

 Estavam lá abandonados, sozinhos, quase chorando, um par de sapatos, um consolando o outro.

O sapato esquerdo esquerdo perguntou:
- Por que será que ele nos abandonou? Será que estávamos tão feios? Sem graxa? Sujos?
O sapato do pé direito respondeu:
- Não.... é porque você estava com um furo bem no meio da sola. E ele ficou cansado de tanto furar o pé de meia. Tenho certeza que foi por isso.
O sapatos do pé esquerdo respondeu:
-Ah... Sempre eu... Sempre eu...

Enquanto os  sapatos discutiam não perceberam que foi chegando bem próximo a eles, um rapaz descalço.
Foi chegando, chegando e de repente calçou os sapatos.
Ficou tão feliz que saiu correndo e pulando.
Correu, correu até perto de outro rapaz e disse rapidamente:
- Cara, olha o que eu achei!  Olhando para  seus próprios pés.
- Um par de sapatos.  E tem um detalhe, está com um furo bem onde eu tenho um calo. Não é maravilhoso! Assim não irá doer quando eu caminhar.
Imediatamente ouviu-se um grande e profundo suspiro. Era do pé esquerdo. Todo Feliz da vida.  Nesse momento ele se sentiu muito importante.

5 comentários:

  1. Bonito trabalho este de sensibilizar outros a escreverem.
    Abraço. (E vou ganhar mais uma palavra para a minha coleção!).

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    1. Leda, bonito é o seu trabalho de escrita que ouço e leio há tantos anos, nas nossas maravilhosas tardes. Beijos

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  2. me faz lembrar "O ultimo poema" de Mario Quintana.

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