domingo, 24 de outubro de 2010

As histórias da xícara

 



Outro dia, fui visitar minha amiga Nadra, que nasceu na Síria e veio morar no Brasil ainda pequena. Ela fez um café no Ibrik, um bule de cobre que trouxe de sua terra. Muitas árabes lêem o futuro na borra de café, que é o pó que sobra no fundo da xícara. Mas Nadra vê histórias lá dentro. Depois que tomei o último gole, ela pegou minha xícara e viu os desenhos que se formaram na borra:

- Aqui tem uma lâmpada mágica!, disse Nadra, com olhar inspirando mistério. Quem a encontrou foi Aladim, um menino pobre, que vivia com a mãe.
Um dia, chegou à sua casa um mágico dizendo ser seu tio. Mentira! Ele queria usar o menino para buscar uma lâmpada guardada dentro da terra. Então, deu a Aladim um anel mágico, que abria as portas do lugar misterioso.
Lá entrando, Aladim encontrou um jardim com árvores de esmeraldas, rubis e pérolas, e bem no fundo, a lâmpada.
Ao retornar à superfície, o mágico lhe disse: 'Passe aqui esta lâmpada', com a intenção de deixar o menino preso lá dentro. Aladim, desconfiado, respondeu: 'Não!'. O mágico, furioso, o fechou ali. O menino esfregou as mãos, aflito. Nesse momento, surgiu do anel um pequeno gênio, falando: 'O que desejas?'. 'Voltar para casa!', pediu Aladim. E assim aconteceu.
Certo dia, a mãe de Aladim pegou a velha lâmpada e começou a lustrá-la para deixá-la mais bonita. De repente, viu sair do bico uma estranha fumaça azulada, que se transformou num poderoso gênio. E ele disse:
'O que desejas?'. Naquele dia ela não tinha nem o que comer, então, pediu um bom almoço.
Surgiram muitas bandejas de prata e cálices de ouro, com as mais deliciosas comidas. 'Aladim, venha almoçar', disse a mãe. E assim, mãe e filho fizeram muitos e muitos pedidos, e viveram bem felizes.

E esta foi a história que vi dentro da sua xícara, falou Nadra.

- Hum... Vamos tomar outro café?


Texto e ilustração para  Revista Crescer e, posteriormente, publicação no livro "Contos do Quintal" (Editora Globo).

2 comentários:

  1. que delícia de conto. Vou repassar pra minha amiga Magda que está com o blog "alem da xícara".
    pintou uma onda de xícara agora, será por quê?

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  2. Boa, Rosaly,

    sei lá. Escrevi faz tempo este pequeno conto. Tudo começou com a visita de uma amiga ( de verdade) chamada Nadra. Ela lê a borra de café.
    Beijos

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