em pleno
Festival da Mantiqueira de 2012, aconteceu uma oficina de escrita. Lá estavam, noite fria, muitas pessoas mais do que afiadas para buscar seus próprios textos. A ideia ou o "jogo" era ler uma imagem para construir um texto. Começamos com Van Gogh e Chagall. Umas botinas que pareciam vivas e uma mulher envolta numa atmosfera onírica. Da poesia à prosa, ninguém saiu de lá sem construir enredos, personagens e versos. Foram três encontros muito significativos. Falamos de tudo, inventamos outros sapatos, buscamos pés esquecidos, calçamos as botinas de Van Gogh e partimos. Bem, algumas pessoas que participaram enviaram trechos de seus textos. Começo aqui por Marcio Alan. Os três autores se inspiraram no quadro de Chagall "Retrato de Vava". Boa leitura!
TEXTOS DOS PARTICIPANTES:
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Portrait de Vava, 1966. Marc Chagall |
Impressões
Autor: Márcio Alan
Vandinho me visse agora, não vou deixar ele me rebaixar assim. Se quiser, ele que fique com rosinha. De hoje em diante cuidarei de mim, cuidarei da casa, afinal eu sou o homem da casa. Patifaria, Vandinho, terminar nosso noivado assim... me sobrou o enfeite do bolo de um casamento que não aconteceu. Quero de volta, Vandinho, esse tempo da minha vida roubado e gasto por você.. Bem que sua mãe me disse que você não prestava, que não era flor que se cheirasse, todas aquelas estórias, aqueles xavecos, promessas... Paris, Vandinho? Você não ia comigo nem a feira, nem a missa! Tinha vergonha de mim, vergonha da mulher completa, independente, que você prendia dentro de casa.. Eu era um troféu que você exibia a seus amigos, um bibelô caríssimo que se quebraria se mal manuseado.. Quebrei, Vandinho, quebrei a cara, deixando você me manipular, acreditando nesse amor doentio, ordinário que você herdou do seu pai.
Sabe, eu não te culpo, não totalmente, fui ingênua. No seu mundo machista, fui um detalhe, uma caricatura. Uma criatura presa, domada, silenciada... Eu era sua mãe Vandinho e sua mulher quando lhe cabia. Agora sou mais eu, sou jovem, bonita, tenho uma vida inteira...
Ahh Vandinho, se você me visse agora....
Rapunzel de Moicano
Autor: Diego Teixeira Araujo
Do alto da torre se ouvia...
um gemido, uma dor!
Encastelada, ela implorava
o seu direito ao grito! Estribido!
Bem longe da torre se via...
o principe de armadura reluzente.
Refletia o medo de enfrentar
o dragão e as labaredas!
Do olhar, ela cansou de si!
De se prender, de se fechar.
A princisa cansou de desfilar
nos olhos alheios e de...
Definhar nos olhos alheios.
Chama o príncipe, o fogo, mas eles
não vem, ele não vê!
A torre de pedras que prendem a princesa!
Ela não vai, ela nã viu.
O medo de se descobrir
se desbravar.
Ela está fora de si!
De se questionar.
Desce da torre, a princesa!
Desperta.
De tranças cortadas nasceu
a rapunzel de moicano
que enfrentou o dragão,
a torre e o medo de se perder!
Ela cansou de se esperar!
Agora o príncipe aguarda na torre.
De onde se ouvem os gritos!
Que nadam no vento...
Ela, a princesa galopa
por outros reinos, outros gostos, outras vozes.
Ela, a princesa combate
os algozes, as pedras e até os monstros!
Ela, a princesa desperta
donzelas, princesas, madames e até madrastas!
Ela, a princesa, esperta e delicada
Com seu doce beijo liberta outros contos!
Fiona Francesa
Autor: Diego Sant·anna
Oh! Fiona do agreste francês,
quantos segredos você esconde?
Quem foi que te embuchou?
Príncipe, marquês ou conde?
Com sua mão desmunhecada,
em sua lápide aguarda a morte.
Nem mesmo sua bíblia sagrada
lhe trará um momento de sorte.
A serpente do mundo te acompanha
e a mortália coruja, ao ver-te se assanha.
Em seu estado semi vegetativo,
uma làgima em seu rosto sorriu.
Acariciando um aspecto contemplativo.
Burro! Foi com ele com quem Shrek te traiu.